Trata-se do raríssimo álbum duplo "Paêbirú", creditado a Lula
Cortês e Zé Ramalho, gravado entre os meses de outubro e dezembro de 1974, na
gravadora Rozemblit, em Recife (PE). Com eles, estão Paulo Rafael, Robertinho de
Recife, Geraldo Azevedo e Alceu Valença, entre outros. Na época, Lula Cortês
tinha em seu currículo o álbum "Satwa" (1973), que trazia canções com título
como "Alegro Piradíssimo", "Blues do Cachorro Louco" e "Valsa dos Cogumelos". Zé
Ramalho, já tocando com Alceu Valença, tinha em sua bagagem a experiência de
grupos de Jovem Guarda e beatlemania, como Os Quatro Loucos, o mais importante
de todo o Nordeste.
Clássico do pós-tropicalismo, com (over)doses de psicodelia, o
álbum trazia seus quatro lados dedicados aos elementos "água, terra, fogo e ar".
Nesse clima, rolam canções como o medley "Trilha de Sumé/Culto à Terra/Bailado
das Muscarias", com seus13 minutos de violas, flautas, baixo pesado, guitarras,
rabecas, pianos, sopros, chocalhos e vocais "árabes", ou a curta e
ultra psicodélica "Raga dos Raios", com uma fuzz-guitar ensandecida. E, destaque
do álbum, a obra-prima "Nas Paredes da Pedra Encantada, Os segredos Talhados Por
Sumé" (regravada por Jorge Cabeleira, com participação de Zé Ramalho), com seu
baixo sacado de Goin' Home dos Rolling Stones sustentando os mais pirados 7
minutos do que se pode chamar de psicodelia brasileira.
O disco por si só é uma lenda, mas ficou mais interessante ainda
pelas situações que envolveram a sua gravação. A gravadora Rozenblit ficava na
beira do rio Capiberibe, e o disco, depois de gravado, foi levado por uma das
enchentes que assolavam a região. Conta a lenda que sobraram apenas umas
trezentas cópias do disco, hoje nas mãos de poucos e felizardos colecionadores,
muitas das quais no exterior, onde foram parar a preço de ouro. Contando com a
co-produção do grupo multimídia Abrakadabra, o disco trazia um rico encarte, que
também sucumbiu ao aguaceiro.
Hoje "top 10" das paradas de CDr no país e item valioso no
mercado internacional de raridades psicodélicas, o álbum segue misteriosamente
inédito no mundo digital. Com isso, a indústria discográfica brasileira perde uma
boa oportunidade de provar que se preocupa um pouco mais do que com o tilintar
da caixa registradora. "Paêbirú", que quer dizer "o caminho do sol" (para os
incas), poderia ser o primeiro de uma série de raridades a ganhar a luz do dia,
para ocupar uma fatia de mercado que, se pequena comercialmente, é fundamental
para a preservação da cultura musical brasileira. Texto de Fernando Rosa,
originalmente publicado na revista Showbizz.
Bailado das Muscarias
02. Harpa dos Ares
03. Não Existe Molhado Igual ao Pranto
04. OMM
05. Raga dos Raios
06. Nas Paredes da Pedra Encantada
Os Segredos Talhados por Sumé
07. Marácas de Fogo
08. Louvação a Iemanjá
Regato da Montanha
09. Beira Mar
10. Pedra Templo Animal
11. Sumé
Opção 2.
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