Muro do Classic Rock: Savoy Brown

21/11/2023

Savoy Brown - Discografia.

Parte do movimento de Blues Rock surgido no final dos anos 60, a banda britânica Savoy Brown nunca alcançou tanto sucesso no Reino Unido quanto conseguiu nos EUA, onde embarcou em turnês sucessivas para promover seus álbuns. O grupo foi montado pelo guitarrista Kim Simmonds cuja personalidade dominadora acabou determinando incontáveis formações e mudanças de pessoal. A banda original incluía Bryce Portius (cantor), Bob Hall (teclados), Martin Stone (guitarras), Ray Chappell (baixo) e Leo Manning (bateria).

Foi esta formação que gravou o álbum de estreia, "Shake Down" (de 1967), uma coleção de covers de Blues (Willie Dixon, John Lee Hooker, B.B. King etc.), ainda sob o nome "Savoy Brown Blues Band". Procurando um enfoque diferente, Simmonds dissolveu o grupo e montou outro, agora com Dave Peverett (guitarras), Rivers Jobe (baixo), Roger Earl (bateria) e Chris Youlden (vocais).

Youlden lhes daria uma imagem com seus vocais habilidosos, seu chapéu coco e seu monóculo inglês. "Getting To The Point" (de 1968) marcou a estreia em estúdio desta formação. A dupla Simmonds e Youlden partiu para compor material próprio, o que deu super certo. As performances eram sólidas (totalmente Blues Revival), ainda que os vocais de Youlden fossem meio imitadores de B.B. King e Muddy Waters. Mas o cara tinha presença, carisma e boa voz. Destaques foram "Flood in Houston" e "Mr. Downchild".

"Blue Matter" (de 1969) foi o 3º disco, porém o primeiro a surgir com a formação considerada a melhor/definitiva do Savoy Brown. Desta feita, reuniram-se Simmonds, Peverett, Earl, Youlden e Tony "Tone" Stevens (baixo). Fazendo uma mistura de bons covers de Blues e algumas composições próprias, o lado A era todo de estúdio e o lado B todo ao vivo. Com certeza, a melhor canção era "Train To Nowhere", um destaque instantâneo que viraria marca registrada da banda. "Train To Nowhere" era uma verdadeira façanha, com sua construção paciente e insistente, crescendo lentamente até o clímax com o trem apitando. A capa era outro destaque (a cargo de David Anstey), cheia de detalhes imaginativos, bem artística, colocando-os um degrau acima das demais bandas do movimento. Em ago/69, combinando os talentos de Simmonds/Youlden, eles voltaram com outro excelente disco, "A Step Further". Na esteira do bem sucedido "Blue Matter", eles avançavam na ribalta do Blues-Rock. Todas as 5 faixas são boas e centradas no Blues. Os vocais de Youlden se mostram especialmente belos em "Made Up My Mind" e "I'm Tired". Aliás, as 4 primeiras faixas estão entre o melhor deles, mas não são nada perto da última, os 22 minutos de "Savoy Brown Boogie", um dos melhores exemplos do estilo crescente de tocar aquele boogie circular, com a guitarra criando um momento até o final eletrizante.

Esta formação ainda soltaria o álbum "Raw Sienna", de mar/70, outro discaço que trouxe a banda aparando arestas mais agressivas e invadindo território até meio jazzístico (porém, mantendo intactas as bases no Blues). Sem nenhuma faixa ruim e esbanjando variações (slide guitar, violões, metais, cordas), "A Hard Way To Go", "Needle and Spoon" e "Stay While The Night Is Young" são especialmente boas e ainda há duas instrumentais. Infelizmente, seria o último disco com Youlden (que resolveu se meter numa carreira solo que não deu em nada). Sem ele, Simmonds perdeu seu melhor assecla (afinal, Youlden já era visto como uma das vozes mais cheias de personalidade do Blues inglês e a banda jamais se recuperaria desta perda), mas escalou Peverett para assumir os vocais no álbum seguinte, "Looking In", de set/70. Com Simmonds totalmente descaralhante na guitarra e "Lonesome" Dave Peverett até fazendo um bom trabalho nos vocais, o Savoy Brown ainda conseguiu aqui outro ótimo resultado: arranjos contagiantes, música sedutora e ótima de ouvir. "Money Can't Save Your Soul" é atolada no Blues de raiz e a guitarra de Simmonds chora de verdade. "Sunday Night", bem mais leve e relaxante, enquanto "Take It Easy" soa como se fosse canção de B.B. King. O velho e bom Blues-Rock inglês soando simples e efetivo. Uma beleza.

Na sequência, Peverett, Earl e Tony Stevens resolveram montar o Foghat (sim, o grande Foghat de "Fool For The City"), deixando Kim Simmonds sozinho. Ele, então, chamou Paul Raymond (piano), Andy Silvester (baixo), Dave Bidwell (bateria), todos da banda Chicken Shack, e ainda contratou Dave Walker (vocais) para juntos gravarem "Street Corner Talking", de 1971, surpreendentemente, um dos melhores discos do Savoy Brown. Conseguindo uma química quase instantânea, com a voz aconchegante/fervorosa de Walker, mais a guitarra exuberante de Simmonds, eles conseguiram produzir um Boogie Rock mesclado com Blues Rock feroz, porrada e poderoso. Do cover enxuto de Willie Dixon ("Wang Dang Doodle") ao profundo sentimento em "All I Can Do", o álbum demonstra ser multifacetado, com os músicos contribuindo igualmente para o resultado esplêndido, algo raro depois de tantas trocas grandes de pessoal. Essa mesma formação ainda gravaria "Hellbound Train", de fev/72, um pouco menos energético e apaixonado que o anterior, mas ainda bom. Talvez, uma grande diferença aqui seja a ausência visível daquele ar de Blues de raiz, tão forte em "Street Corner Talking". A faixa título era claramente a melhor, com a banda soando coesa e vibrante. O baixo de Silvester é fácil um dos destaques do disco, mas no geral as composições são medianas, sem tanto brilho. Não é um disco ruim, apenas falha ao conseguir a potência de seu antecessor.

Para o álbum seguinte, "Lion's Share", de out/72, Silvester seria substituído por Andy Pyle. "Shot In The Head", com um arraso na "slide guitar" abria o disco (e se tornaria canção obrigatória nos shows). Na minha opinião, Walker era bom cantor, mas incapaz de criar a marca que Youlden deixou. Ele acabou abandonando a banda para ir para o Fleetwood Mac (fase pré Buckingham-Nicks - parece que ele chegou a ensaiar também com o Black Sabbath, naquela época em que o Ozzy saiu mais voltou para fazer o "Never Say Die"). Sem Walker, o Savoy Brown se virou com Jack Lynton (que tinha voz inferior, ainda que competente). A coisa até que funcionou mais ou menos no álbum "Jack The Toad", de 73. A faixa "Coming Down Your Way" é o destaque. As presenças de Ron Berg (percussão) e Stan Saltzman (sax) deram um grau no instrumental, trazendo energia, mas ficava faltando algo do Blues de verdade. A banda se dissolveria em 1973, mas voltaria no ano seguinte. Durante os anos 80/90, Simmonds manteria o Savoy Brown e suas múltiplas formações, sempre mutantes, mil turnês pela América e discos que guardariam o estilo Boogie Rock blueseiro. Texto: Mural Cultural.

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Bitrate: 192Kbps.

Álbuns.

Shake Down (1967)

01. Ain't Superstitious

02. Let Me Love You Baby
03. Black Night
04. High Rise
05. Rock Me Baby
06. I Smell Trouble
07. Pretty Woman
08. Little Girl
09. The Doormouse Rides The Rails
10. It's All My Fault
11. Shake 'Em On Down