A história da banda carioca Veludo, surgida no inicio dos anos
70, é tão obscura quanto a de qualquer outra banda daquela época - como Módulo
1000, A Bolha, Vímana , Peso e Scaladacida. Era um tempo onde a juventude queria
ir além do Tropicalismo, que era mais acessível, e beber das fontes importadas
de bandas como Yes, ELP e King Crimson. Enquanto no Brasil, os únicos grupos que
tinham um certo reconhecimento, como Mutantes e Terço, só se apresentavam mais
pelo interior do estado, haviam também outros que ganhavam muito dinheiro
cantando em inglês e se apresentando na TV e nas capitais, como o Pholhas e
Menphis, seguindo a linha de Morris Albert (cantor de Fellings).
Em contrapartida, surgiria em 1974, o Veludo, sob a liderança do tecladista e compositor Elias Mizrahi. Tinha ainda em sua formação o guitar hero Paulo de Castro e o ex-Bolha, considerado por muitos como o melhor baterista carioca, Gustavo Schoeter (que depois tocaria na Cor do Som) e, no baixo, Pedro Jaguaribe. Antes disso se chamava Veludo Elétrico e chegou a ter entre seus integrantes: Lulu Santos e Fernando Gama (que saíram para formar o lendário Vímana), Rui Motta, Tulio Mourão e Luciano Alvez (que passaram pelos Mutantes, liderado por Serginho Dias). Fernando Gama integraria depois o Boca Livre, Tulio Mourão tocaria com Milton Nascimento entre outros, e Luciano Alvez nos primeiros discos de Pepeu Gomes.
O som do grupo nessa época era basicamente calcado no hard -rock, talvez com toques de Deep Purple, e muito improvisado. Muitas vezes pareciam que tocavam tão alucinados que iriam se perder no meio dos temas. Natural, pois o Veludo Elétrico fez muitos shows pelo Rio de Janeiro tocando Rolling Stones, mas a proposta do agora "Veludo" já se distanciava bastante da original.
Contudo, a fama da banda se espalhava com enorme repercussão. Diversas eram as dificuldades naqueles anos (1974-1975), pois nenhuma gravadora estava disposta a levá-los para o estúdio e investir; o som era muito mais experimental. Aliás, de experimental no Brasil, só o Hermeto Pascoal conseguiu alguma coisa, mesmo assim teve que sair do país. or causa disso, alguns fãs levavam gravadores para as apresentações afim de obter registros das músicas e assim, no início dos anos 90, surge o disco 'Veludo ao Vivo' (1975), fruto da atitude de um fã que teve a coragem de prensar 2000 cópias e, dessa forma, prestar uma valiosa contribuição para a história do rock nacional.
O disco foi gravado da apresentação da banda no projeto Banana Progressiva, impulsionado pelo multimídia Nelson Motta. Uma raridade imperdível, apesar da baixa qualidade técnica da gravação - o que é perfeitamente compreensível. Texto: Brazilian Progressive Rock.
Para Elias Mizrahi o Veludo nunca desapareceu. No máximo, passou prolongado período em hibernação. Responsável pela maior parte das composições do extinto grupo, que ora tenta ressurgir, o tecladista, cantor e guitarrista jamais abandonou o hábito de compor. Ao longo dos anos, vem acumulando farto material que sobeja em fitas que o músico mantém arquivadas em casa. "São mais de mil músicas", confirma Elias. A fim de dar forma final a parte pequena de sua criação e com a ideia do Veludo ainda latente, ele chamou o baterista Gustavo Schroeter, ex-Veludo, e o baixista Lincoln Bittencourt, ex-integrante d'A
Bolha, para, juntos, iniciarem uma longa jornada de gravações.
As sessões, num estúdio em Botafogo, prosseguiram por incontáveis meses, geralmente atravessando madrugadas, como conta Gustavo. Em algumas delas o trio contou com a adesão do guitarrista e, hoje, também produtor, Marcelo Sussekind. O resultado, suficiente para preencher mais de um CD, permaneceria engavetado não fosse o esforço e abnegação de Cláudio Britto, amigo de Elias e fã do Veludo. Logo que soube das tais gravações Cláudio decidiu produzir e assumir o lançamento do CD que, por obra do destino, vem a tornar-se o primeiro disco de estúdio do Veludo.
Intitulado ‘A Re-Volta’, nome ambivalente, significando tanto uma possível retomada de atividade da banda quanto um desabafo pessoal de Elias, em consonância com as dificuldades que tem enfrentado para mostrar seu trabalho, o CD coleciona dez temas, sendo cinco instrumentais, selecionados por Gustavo, Lincoln, Marcelo e Elias, a partir do material gravado em Botafogo. Todos compostos e arranjados por Elias. Em ‘O Poeta’, no entanto, o tecladista teve parceiros e sua autoria é também creditada a Waldemar Motta e Leca.
O disco é calcado no som dos teclados, que abundam em ‘A Re-Volta’, conferindo à obra uma aura de rock progressivo. Não obstante, o emprego de matizes sonoras diversas a partir de suas teclas (e registros) não o deixam soar anacrônico e, tampouco, excessivo. Os arranjos de bom gosto, por vezes delicados, escorados no baixo preciso de Lincoln e na rica batida de Gustavo ajudam a criar climas diversos que se alternam, tanto dentro de um mesmo tema quanto ao longo de suas faixas.
‘Coisa Linda’ é a porta de entrada do CD. Abre com um riff que lembra tema de abertura de programa de TV, mas a impressão logo se desfaz assim que ele evolui em linha melódica distinta, ditada pela voz de Elias, vigorosa e clara.
"O poeta está sofrendo, por não ter com o que sonhar", diz a letra de ‘O Poeta’, o tema seguinte, que prossegue antevendo a possibilidade de apocalipse ao final do milênio (que já se completou). Se o poeta não tinha motivos para sonhar e consequentemente nutrir sua inspiração para elaborar suas poesias, os autores da música, ao contrário, inspirados, criaram canção condizente com a melancolia de seus versos.
‘Veludiando’ é o primeiro tema instrumental do CD, que evolui por mais de sete minutos e conta com participação especial de Marcelo Sussekind. O guitarrista empresta ao tema seu toque ágil que se impõe por alguns momentos e centraliza a atenção do ouvinte. Apesar do título, a música não se assemelha a composição de Paul de Castro, Elias e Nelsinho Laranjeiras, que abre o CD ‘Veludo Ao Vivo’, denominada ‘Veludeando’. O título recorrente (o significado é o mesmo) apenas revela a paixão de Elias pelo Veludo.
As vozes de Elias, Lincoln e Gustavo brilham juntas em ‘A Música Que Vem Do Céu’, que aparece no CD cercada por outro tema instrumental, intitulado ‘Império Romano’. Aqui, é impossível não pensar no trio Emerson, Lake and Palmer da época do disco ‘Tarkus’. Já, na seguinte, ‘Cigania’, introduzida por violão que ampara toda a canção, o tom é diferente. A melodia passeia por território espanhol em sutil cruzamento com o ritmo árabe, assim como a história da região.
Com o feliz título de ‘La Sonata Claríssima’, este tema instrumental conduz o ouvinte através de uma mini-suíte muito bem arranjada e executada. E, mais uma vez, conta com a participação de Marcelo Sussekind. Teclados, baixo e bateria pavimentam a canção antes que a guitarra de Marcelo se faça presente. Quando irrompe, eloquente, progride beirando notas agudas até desaparecer com entrada límpida do órgão Hammond de Elias. O suporte de baixo e bateria é impecável, com Lincoln e Gustavo mantendo ritmo preciso enquanto Elias desenvolve ótimo trabalho no órgão. Nesse momento, as intervenções de Marcelo são apenas sutis. A composição ainda evolui antes de dar lugar a próxima.
A profunda densidade melódica de ‘Come To Me’, tramada pelos teclados, envolve o ouvinte como uma espessa névoa, tal como a voz de Elias. Escrita em inglês, talvez esta seja a melhor faixa do CD.
As duas últimas são temas instrumentais: ‘Teu Foco’, sem baixo e bateria, é a mais curta do disco (CD); ‘Portas do Céu’, novamente com baixo e bateria, tem no piano, tocado com agilidade e leveza, o seu fio condutor.
Palavras de Elias Mizrahi (R.I.P. 2021).
Se tem ou não detalhes que na verdade só poderiam ter sido revelados sobre o surgimento e a história de minha banda, o “VELUDO”, esse alguém só poderia ter sido eu mesmo e meu saudoso guitar hero Paul de Castro, Evidente!!
Afinal! Eu! Sim! Eu mesmo! Elias, um, dos pais legítimos e fundador mor da banda, atenção! Tenho de ver aqui para que se faça justiça e ter de publicamente “declarar” que jamais fui informado ou sequer consultado antes, sobre a publicação recentemente lançada do documentário “Veludo – A história oficial”. Nós dois, que nos dedicávamos a ensaiar, cerca d e 8hs-dia, todos os dias! Durante mais de 6 meses, apenas para poder estrear! E só agora, após tenebrosos 20 anos hibernando estar sendo reconhecidos como o que de melhor do Brasil se fez pra música. E para o “Rock- Prog” em todos os tempos. ( Vide a enciclopédia “En busca del tiempo perdido). Portanto em suma fica aqui o meu pequeno protesto por não terem tido essa consideração fundamental! Assim o feito se torna suspeito, tendencioso, retalhado!”.
A Re-Volta (2002)01. Coisa Linda
02. O Poeta
03. Veludiando
04. A Música Que Vem Do Céu
05. Império Romano
06. Cigania
07. La Sonata Claríssima
08. Come To Me
09. Teu Foco
10. Portas Do Céu
02. O Poeta
03. Veludiando
04. A Música Que Vem Do Céu
05. Império Romano
06. Cigania
07. La Sonata Claríssima
08. Come To Me
09. Teu Foco
10. Portas Do Céu
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