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08 fevereiro 2024

Granicus - Discografia.

Quando Alexandre, o Grande, deu sua primeira surra no Império Persa, em 334 A.C., não estava fazendo apenas história. Estava fazendo também rock’n’roll, pois 2306 anos depois, o rio que batizou essa batalha, Granicus, emprestou seu nome para uma banda americana de hard rock que atacava os instrumentos com a fúria dos macedônios e que também morreu jovem como o grande general. A diferença é que o Granicus nunca foi uma banda vitoriosa, muito menos coberta de glórias.
 


Tudo começou em um quarto de hospital na cidade de Cleveland, no estado de Ohio, USA, em 1970, onde o jovem Joe Battaglia estava se recuperando de uma operação que sofreu nas costas. Ali ele intuiu que tudo o que queria na vida era dedicar-se ao rock’n’roll. Apesar de não saber tocar nenhum instrumento e estar ainda meio paralisado em consequência da operação, decidiu-se por uma bateria e comprou uma usada logo que recebeu alta. Na sequência um amigo em comum apresentou-o ao guitarrista Allen Pinell, que havia voltado a pouco do Vietnã, trazendo na bagagem vários problemas relacionados com o estresse provocado pelos traumas da guerra: não conseguia se concentrar e muito menos dormir regularmente. 

Entre eles havia muita afinidade e não demorou alugaram uma casa em uma avenida em Lakewood, um subúrbio de Cleveland, e começaram a praticar. Tinham em mente (praticamente uma visão) formar uma banda, tocar suas próprias canções e gravar um álbum. Depois de um ano praticando juntos, começaram a recrutar outros músicos: o primeiro deles foi o guitarrista Wayne Anderson, um cara muito influenciado pelo patrício Joe Walsh e também pelo blues e funk que ouvia constantemente na vizinhança negra onde cresceu; a seguir veio o baixista Dale Bedford, no começo de 1972, descoberto por Pinell em um encontro casual no porão de uma loja de instrumentos musicais. Como nenhum deles tinha boa voz, precisavam desesperadamente de um cantor e a providência literalmente bateu à porta da banda quando a figura de Woody Leffel, outro residente da mesma avenida onde ensaiavam, foi atraída pelo som que tocavam. Leffel, aliás, era o único entre eles com alguma experiência, pois já havia cantado profissionalmente em bandas locais, uma delas o combo pop Renaissance Fair. 

Foi por essa época que a banda finalmente foi batizada. O nome Granicus surgiu graças à admiração que Pinell tinha por Alexandre, o Grande. E como os sonhos de conquista dos rapazes também não eram pouca porcaria, decidiram abandonar Cleveland e, no começo de 1973, já tinham se demitido de seus empregos para fixar residência em Grafton, no interior do estado de Nova York. De lá, baseados em um restaurante local, começaram a convidar pessoas ligadas às companhias de discos para ouvi-los. Quem acabou se entusiasmando com os rapazes foi Terry Richards, que havia sido cantor da banda Chase e que tratou de conectá-los com um empresário chamado George Freije. 

De posse de uma fita demo com as composições do grupo, Freije conseguiu agendar algumas audiências com várias companhias. Elas aconteceram no Winter Garden Theater, um teatro da Broadway localizado perto do Greenwich Village, em Manhattan. Embora tivessem feito apenas uma única apresentação pública sem importância, a banda não estava nem um pouco intimidada por se ver diante de alguns tubarões da indústria musical americana. Muito pelo contrário: tocaram o que sabiam e não devia ser pouco, porque atraíram imediatamente o interesse tanto da RCA quanto da Columbia, esta representada por ninguém menos que Sandy Pearlman e Murray Krugman, produtores do Blue Öyster Cult. E acreditem: mesmo cobiçados por duas autoridades do heavy metal, preferiram assinar com a RCA. 

Contrato assinado, eles entraram imediatamente no Estúdio C da RCA, em Nova York, para a gravação do LP estreia. Toparam com o produtor Martin Last, que estava tão familiarizado com grupos de rock quanto os músicos entendiam de samba. O resultado final foi tachado pela banda de estéril, um verdadeiro desastre. Pinell, por exemplo, chegou a dizer que tinha pesadelos com a mixagem, mas isso não impediu nem um pouco que o disco adquirisse mais tarde a fama de “excelente” entre os colecionadores de hard setentista. Mas o pior ainda estava por acontecer, pois no momento em que o disco estava pronto para ir às lojas, a RCA resolveu mudar de uma hora para a outra seu direcionamento e começou por cortar toda a verba de promoção para novos artistas. Ou seja: poucas lojas receberam o disco, um par de rádios se dispôs a tocá-lo e apenas um punhado de consumidores decidiu arriscar seu dinheiro suado naquele disco de uma banda totalmente desconhecida. Mesmo as apresentações ao vivo do Granicus não passaram de uma ou outra data na Universidade de Nova York, no Rochester’s Oasis Club e, a melhor delas, no Michigan Palace, onde abriram para Bob Seger, Cactus e Bloodrock. 

Quanto ao LP, as letras de Leffel tinham como pano de fundo crescer em uma América dominada pela guerra do Vietnã e sofrer as consequências (Pinell, o guitarrista, era o exemplo mais próximo). O som é um proto-metal feroz, melodicamente dinâmico e pesado, mas que muitos acusam de ser uma espécie de cópia do Led Zeppelin em função do timbre de voz do vocalista lembrar um jovem Robert Plant. Não vejo nada aí que desmereça a banda e existe muito de exagero e lugar comum nessas afirmações. O primeiro LP do Rush também sofreu essas comparações e com a evolução do grupo ninguém o sacrificou por isso. Tivesse o Granicus a mesma sorte, quem sabe onde iriam parar. Também não quero entrar no mérito de analisar música por música porque senão este texto não teria fim, mas é ouvir para crer.

Cleveland, a cidade natal do Granicus, em vez de guarida, também resolveu boicotar a banda. Essa história é curiosa: na gravação do LP, os músicos costumavam fazer uma jam com uma música que eles criaram em homenagem ao rio Cuyahoga, em cujas margens nasceu a cidade de Cleveland. Acontece que esse rio era o mais poluído dos EUA, transportando em suas águas grandes quantidades de petróleo, fato que que fazia com que o rio pegasse fogo de tempos em tempos, causando estragos consideráveis nas embarcações e construções ribeirinhas. Após um famoso incêndio ocorrido em 1969 é que o governo resolveu tomar providências e cuidar da despoluição do rio. Bom, a tal da música, chamada “Cleveland, Ohio”, foi incluída no LP. Ela tinha como refrão a frase “I’m getting out of Cleveland, Ohio” e isso desagradou os habitantes, por mais que a explicação da banda fosse a de que os motivos alegados na música para se mandar da cidade fossem provocados em consequência dos incêndios do rio. Para piorar, os músicos resolveram fazer uma brincadeira e lançaram um concurso onde quem bolasse o melhor motivo para abandonar Cleveland ganharia uma estadia de uma semana em Nova York com todas as despesas pagas. Ninguém achou a mínima graça. 

As coisas começaram a ficar realmente feias para o Granicus. E pioraram muito quando a voz da banda, Leffel, casado e pai de um filho, sentiu que precisava achar outro lugar para ganhar dinheiro e sustentá-los. Foi o primeiro a abandonar o barco. O grupo ainda tentou recrutar um novo vocalista e colocou anúncios até na inglesa Melody Maker. O mais estranho é que surtiu um efeito surpreendente, pois logo receberam uma resposta de ninguém menos que Graham Bond, interessado na vaga (ele morreu não muito tempo depois, em maio de 1974). Outro que respondeu, e foi aceito pela banda, foi o vocalista escocês Jesse Ray, dono de um estilo vocal muito água com açúcar para a fúria hard do Granicus. Nesse meio tempo em que acertaram com Ray e este viajava rumo à Nova York, a falta de grana fez mais duas baixas, com a saída de Bedford e Anderson. Pinell, que nestas alturas já estava desiludido quanto ao futuro da banda e, para complicar, sofria cada vez mais com seus problemas relacionados ao Vietnã, jogou a toalha de vez. 

Battaglia e o novo vocalista ainda tentaram alguma coisa: recrutaram novos músicos, entre eles o então desconhecido baixista inglês John Waite, e mudaram o nome da banda para The Boys, assumindo um estilo de som mais chegado ao R&B funkeado. Após um ano de existência e pouco mais de uma dúzia de apresentações, os garotos do Boys chegaram à conclusão de que precisavam de uma aposentadoria precoce. Foi o fim para Battaglia, Ray e cia., menos para John Waite, que ingressou na banda inglesa The Babys e partiu depois para carreira solo, conquistando um primeiro lugar na Billboard em 1984 com a música “Missing You” (mais tarde o músico formaria o Bad English). 

O que restou do Granicus foi seu maravilhoso álbum, porcamente distribuído e, por isso mesmo, um objeto de cobiça entre os aficionados e colecionadores de hard setentista. O disco ganhou status de raridade e seu preço foi subindo ano após ano. Em 1997, a gravadora Free Records o lançou em CD e a banda finalmente conquistou a reputação que sempre mereceu, com direito inclusive a especulações de que haveria um álbum abortado na época e algumas gravações ao vivo. Uma edição digipack, remasterizada e com seis faixas bônus de material ao vivo, saiu em 2009 em comemoração à volta da banda depois de mais de 30 anos de ostracismo. Battaglia e todos os demais membros originais lançaram em 2010, pela CDBY, o álbum Thieves, Liars, and Traitors. 

O Granicus pode ter sucumbido em suas primeiras batalhas, mas com certeza ainda não perdeu a guerra. Texto: Marco Gaspari. 

Integrantes.

Woody Leffel (Vocal)
Wayne Anderson (Guitarra Solo)
Allen Pinell (Guitarra Base)
Dale Bedford (Baixo)
Joe Battaglia (Bateria)



Bitrate: 320Kbps.
 
Álbuns.

Granicus (1973)
01. You're In America (4:07)
02. Bad Talk (2:48)
03. Twilight (3:24)
04. Prayer (11:05)
05. Cleveland Ohio (3:29)
06. Nightmare (8:19)
07. When You're Movin'(3:16)
08. Paradise (7:15)
Bonus Tracks.
09. Cleveland Ohio (Extended Version) (7:55)
10. Interview (0:51)
11. Hollywood Star (Unreleased Track) (4:36)
12. Prayer (10:26)
13. Interview Part 2 (1:38)
14. When You're Movin' (3:55)


Thieves, Liars, And Traitors (2010)
01. Thieves, Liars, And Traitors (2:48)
02. Space In Time (4:57)
03. Equator (3:16)
04. I'm Not Sick (4:04)
05. Hollywood Star (3:18)
06. Wizard Of Was (4:36)
07. Taste Of Love (3:39)
08. Slings And Arrows (5:54)
09. When You're Movin' - Back Seat Of My Car - Bad Talk (Live Jam) (27:01)

Opção 1. Opção 2.

 
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